Abertura comercial: estudo prevê ganhos para o Brasil

Escrito por Vitor Gomes Calado

A liberalização comercial, no final, não é uma ameaça ao emprego nacional, mas uma oportunidade de grande crescimento.

Abertura comercial: estudo prevê ganhos para o Brasil

Um novo estudo de Carlos Góes, Alexandre Messa e Eduardo Leoni, publicado na Revista Brasileira de Economia, lança luz sobre um dos temas mais debatidos da política econômica brasileira: liberalização comercial. O estudo propõe um método para estimar os efeitos de uma liberalização do mercado de trabalho brasileiro e, com isso, mostra que a abertura ao comércio exterior pode trazer ganhos expressivos para o país como um todo, embora, obviamente, não se distribuam de forma uniforme entre setores e regiões. A grande questão do estudo é seu método, que permite estimar os impactos regionais de mudanças nas barreiras comerciais mesmo sem informações completas sobre fluxos de comércio entre estados e municípios. Na prática, isso significa que é possível antecipar como uma liberalização afetaria tanto a economia nacional quanto os trabalhadores em regiões específicas do Brasil. > "Variações na política comercial geram ganhadores e perdedores. Setores que consomem mais insumos e são mais competitivos ganham; outros, que sofrem mais competição direta, perdem. Regiões e trabalhadores ligados a esses setores seguem a mesma lógica", explica Carlos Góes ao divulgar o paper no X (antigo twitter). ## O método Avaliar os efeitos regionais de mudanças na política comercial sempre foi um desafio. O Brasil não possui matrizes regionais detalhadas de insumo-produto, que mostrariam com precisão como setores e estados se conectam entre si. Para superar essa limitação, os autores combinaram duas abordagens: 1. Um Modelo de Equilíbrio Geral Computável (EGC), baseado em Caliendo et al. (2015). Esse modelo simula como a economia reage a mudanças tarifárias, levando em conta a interação entre 57 setores domésticos e 27 parceiros comerciais internacionais. Diferente de modelos mais simplistas, o EGC inclui "fricções" no mercado de trabalho, reconhece que os trabalhadores não mudam de setor de forma automática e sem custos. 2. Estimativas de elasticidades heterogêneas, calculadas a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) entre 2002 e 2015. Essas elasticidades medem como o emprego em cada setor de cada estado reage a choques nacionais. Ao todo, foram geradas 1539 elasticidades específicas a cada estado e setor, que permitem projetar os impactos no nível das microrregiões. Um dos pontos centrais do método é o cálculo de uma tarifa regional heterogênea. Essa medida ajusta a tarifa média aplicada a um setor pela participação desse setor na estrutura de empregos de cada microrregião. Com isso, é possível identificar quais regiões estão mais protegidas hoje e, portanto, mais expostas a perdas caso as tarifas caiam. ## Mais comércio, mais ganhos Os resultados como um todo confirmam uma visão muito combatida pela tradição desenvolvimentista no Brasil, a saber, que a abertura comercial traz ganhos líquidos. No cenário de liberalização completa, projetado para 20 anos após a liberalização comercial, o modelo aponta: - Emprego: o nível agregado