Ideologia e Universidades

Escrito por Mateus Tibúrcio

O artigo traça a trajetória histórica da relação entre a universidade e a ideologia.

Ideologia e Universidades

Por mais estranho que possa parecer, a associação entre ideologia e academia é recente. A Revolução Francesa fechou a Universidade de Paris no ano 1793 como um símbolo da antiga ordem, dando origem ao sistema paralelo das grandes écoles, algo bastante incompreensível fora das fronteiras gálicas. É digno de nota que ela e outras instituições tenham sido esfaceladas nas reformas do Maio de 68 para a criação de várias universidades burocráticas. Jean-Paul Sartre, o ideólogo canalha do movimento, era um egresso da École normale supérieure. Este vagabundo admitiu ter pisado poucas vezes na Sorbonne até o início de uma das maiores palhaçadas da história da civilização humana. Napoleão e seus asseclas dissolveram inúmeras universidades na consolidação do processo revolucionário. A Holanda perdeu Harderwijk e Franeker. O colapso forçado do Sacro Império também provocou o fim de vários estabelecimentos, como Altdorf, Dillingen e Colônia. O caso mais melancólico é o fechamento de Helmstedt por Jerônimo Bonaparte, Rei da Vestefália. Os alunos agora órfãos compuseram um poema capaz de encarnar o fim de um velho mundo: > “Fato cessit Julia > Silent professores > Vacant auditoria > Sola nos memoria > Vocat auditores”. > “Julia cessou pelo destino > Calam-se os professores > Vagam os auditórios > A nós, só a memória > Chama de ouvidores”. (Tradução livre minha) Na Inglaterra, as universidades tinham direito a assentos na House of Commons até 1950, quando todas foram extintas pelo seu notório reacionarismo. Oxford e Cambridge em particular eram tão tradicionais que os seus fellows e dons permaneceram com obrigação de celibato até o final do século XIX, muito depois da Reforma Protestante. Os movimentos progressistas foram forçados a organizar instituições próprias, das quais a mais notável é a University College London, idealizada por Jeremy Bentham como um santuário de todo aquele que não se enquadrasse nos cânones de organizações que ainda eram resquício do Mundo Medieval. Na sua autobiografia Chronicles of Wasted Time, Malcolm Muggeridge lembra a situação hilária em que os seus pais socialistas tiveram de batizá-lo na Igreja